Gosto Muito de Você, Edgar!

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Juliana Bortolom, por Claudio Tavares, para o livro No Coração da Floresta.

Juliana Bortolom, por Claudio Tavares, para o livro No Coração da Floresta.

Gosto muito de você, Edgar.

Não acredito no que Rufus diz a seu respeito ( acho que você deveria processar esse cara). Ele lhe chama de bêbado, maluco, mulherengo, mas qualquer um que tenha realmente lhe conhecido, sabe que isso não é verdade.

Você tinha tudo para não querer viver e, no entanto, foi em frente. Seu pai lhe abandonou, sua mãe morreu e você nem tinha completado três anos de idade! Sua segunda mãe, que lhe amava tanto, também se foi. E, de novo, esse segundo pai do qual você esperava nem que fosse um pouco de simpatia, lhe deixou na mão.

Ah, Edgar, você poderia (e isso seria compreensível) ter se tornado um criminoso, um doido, um lobo solitário. Mas você não o quis. Você criou. Onde poderia haver destruição e ódio, você quis que houvesse criação e esperança. É a sua própria mão que lhe puxa de dentro de fosso. Você é a marreta que derruba o muro. São seus braços que levantam as tábuas do assoalho para descobrir a verdade escondida.

Você escolheu amar, Edgar, e isso é louvável. Mas, de novo, a vida lhe prega peças. De novo, aquela mascara abominável da qual você tanto foge, vem levar alguém que você ama. A morte vermelha está lá, no ultimo cômodo da casa, lhe esperando. E ela tem o rosto de Virginia.

Ah, meu querido, sinto tanto por você. Tenho raiva do mundo por ele não lhe acolher, por não lhe afagar a cabeça e dizer: está bem, agora chega de perder. Sinto muita raiva por ele só lhe dizer: nunca mais.

E você segue criando, você segue colocando vida em um mundo que só lhe retribui com morte. Você é um gato preto espancado, espezinhado e com um olho só que, ainda assim, segue guardando os mistérios do carinho e do afeto.

Quero lhe dar um presente, Edgar.

Aceite-a como uma prova de carinho. Deixe que ela lhe conduza como uma mãe que carrega seu filhote nas costas e depois o aquece embaixo de suas asas. Permita que ela cante para você dormir. Pense que ela não morrerá nunca e que jamais a miséria, a dor e a doença a transformarão.

Ela não lhe abandonará, Edgar. Ela não fenecerá jamais. E você poderá, finalmente, responder àqueles que só lhe acusam e lhe julgam um pária: sou Edgar Allan Poe, um nada, um ninguém, um pedaço de pó no universo. Mas órfão,…nunca mais!

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